Soneto do clamor da solidão

Venham ovelhas do meu canto pastoril,
Venham saudar o vosso senhor...
Tragam consigo toda lã de que preciso,
Pois o inverno este ano é rude e tenho frio.

Venham ovelhas do meu canto pastoril!
Venham saudar o vosso senhor...
Pois dentro do meu coração há um grande vazio
Engolidor das minhas lágrimas e da minha dor...

Venham (!) ovelhas do meu canto pastoril...
Venham saudar o vosso senhor.
Venham buscar o triste pastor que chorando a morte levou.

Venham ovelhas do meu canto pastoril,
Venham saudar o vosso senhor.
Que nem mesmo eu, a solidão, posso escapar das garras do amor!

Lágrimas




Volta

que

a

noite

vai

caindo

aos

poucos

e

a

solidão

quase

deixa

louco

o

coração

de

tanta

tristeza

...

Essência


Ser
Sorrir
Calar
Sentir
Ver
Amar
Ter.
Confessar
Aproximar
Confiar
Progredir
Estabelecer...
Tudo faz parte de ser!

Amigas

Amigas...
se eu não fosse tão suspeita
diria que amigas não são amigas.
Na verdade são pedaços de uma coisa única
como um estrela e o seu brilho...

Amigas são como caramelo
como arco-iris
céu azul
barulho de mar
são irresistíveis umas as outras...

Se eu não fosse tão suspeita
diria que as amigas são anjos
que escondidinhos pelo caminho da vida
cuidam pra que sejamos felizes
e para que o nosso coração esteja sempre aquecido!

Amigas não são apenas amigas...
(São como nós...)

para Jana e Mandinha

Prece e lamúria

Deixe o amor paralítico!
Deixe-o imóvel em seu coração,
Não deixe que parta...
Deixe-me ser a liberdade
Pois caso ele queira fugir
Virá de encontro a mim novamente...

Deixe-o no escuro de uma solitária
Para que eu,
Como o sol,
Possa ir em sua salvação.

Não...
Não o deixe mudo!
Quero que fale
Alto!
Cante-me ó amor amado,
Cante e não se irrite
Não grite!
Cante tão perto de meu ouvido
Que só eu possa escutar...

Ó amor amado, tão egoísta eu sou!
Querendo o teu amor assim
Tão machucado
Só para não ter o risco de não tê-lo mais à mim.
Perdoe-me amado
Se o amor lhe condenou a ser dono de minha eternidade.
Fui eu quem lhe deu este fardo...

Eu,
Perdida entre o romance e a tetricidade.
Eu, que só sei te amar e nada mais.

Deixe o amor livre, bem amado,
Deixe-o escolher se voará até mim....

A noiva

... E lá estava ela.
Toda linda
Toda bela!
Seu cabelo arco-íris!
Amarelo-vermelho-amarelo...
Verdes ou azuis?
Seus olhos pareciam mudar a cor
Cada lágrima que caía.
Seu batom rosa, rosa-lilás!
Suas estrelas da mesma cor,
Não podia ser mais bela!
Mas de repente
Os olhos se fecharam num piscar profundo
As lágrimas perderam o brilho
E deixaram rastros de cicatriz.
Já se via a cor dos olhos... cinza.
Os lábios rosados não sorriam mais,
Não tinham os beijos que queriam.
As estrelas se fizeram cadentes...
E nem a voz que tanto cantou o amor,
Lhe restava.
Essa era a noiva
E agora não é nada.

À um morto-vivo

Pai...
Se eu soubesse teria dito antes
De te deixar ir
Algo sobre a partida,
Algum adeus.
Pai...
Se eu soubesse,
Teria lhe beijado a face,
Teria enxugado com amor
A lágrima
Que de nossos olhos cairia...
Ah, pai! Se eu soubesse...
Teria abraçado
Um último abraço,
Como aqueles calados
Que dizem tudo sem falar nada.
Teria olhado um último olhar,
Como aqueles de pai para filha
No altar...
Aquele de entrega.
Pai se eu soubesse,
Mas não sabia...
Perdão (!) por eu não escutar
A voz do anjo que dizia
Que aquele haveria de ser o dia
Do último toque,
Da última vez...
Pai se eu soubesse,
Talvez a ninguém culparia.
Talvez choraria
Aliviada por saber...

Pai
Te amo!
Teria dito mais vezes se soubesse,
Talvez com mais convicção.
Não sei se no fundo do seu ser
Podia realmente sentir.
Pai, não procuro mais culpados,
Pois se realmente soubéssemos
Nada poderíamos fazer,
De nada adiantaria...

Quem é capaz de cessar o sopro de um anjo da morte?

Pré visão

E um dia eu direi à ti:
Passei...
Como a brisa passa aos amantes,
Passei pela sua vida.
Passei,
Pois sei que não permitirás que eu fique.

Mas não temo não,
Sei que estarei mesmo sem ficar
Pois a brisa passa ligeira,
Mas as folhas que caem ao chão
Permanecem na lembrança,
Mesmo que secas e sem vida...

E mesmo confuso
Não fugirá ao seu destino
E virá ai meu encontro,
Como o rio encontra o mar...